Resumo:
- Existem diversos cases de sucesso de multinacionais que adotam a inovação aberta de maneira estratégica.
- No Brasil, o conceito vem ganhando força e já temos um grande número de cases de inovação aberta.
- A inovação aberta é uma maneira das organizações criarem e capturem valor por meio da colaboração, com o público interno e com ajuda de parceiros externos.
A vida digital representou uma mudança na maneira que nós nos comunicamos, compramos, vendemos, interagimos e aprendemos. Um impacto tecnológico que alcançou todos os setores. A transformação digital está associada a benefícios como maior produtividade, menor custo, criação de empregos e inovação.
O eixo de equilíbrio do ecossistema até então vigente está mudando: de acordo com a consultoria americana IDC, o investimento mundial em tecnologia será de US$ 2,3 trilhões em 2023. Estas cifras impactam o mercado corporativo.
A partir dos anos 2000, ganha força o conceito de inovação aberta (open innovation, em inglês), que é uma maneira das organizações criarem e capturem valor por meio da colaboração, seja do público interno ou com parceiros externos.
A inovação aberta visa trabalhar com pessoas inteligentes, dentro e fora da empresa. E que a organização não precisa necessariamente gerar a pesquisa de base para se beneficiar dela. Na colaboração com parceiros, as maneiras de capturar o valor são os licenciamentos, joint-ventures ou spin-offs. Já pelo viés interno, as boas práticas falam em distribuir e integrar conhecimentos, propriedades intelectuais e produtos ao processo de inovação.
Mas para gestores e líderes sobram dúvidas de como entrar de cabeça neste novo mundo. Existem muitos termos em inglês ou artigos técnicos. Falta clareza sobre como começar e quais parceiros buscar, com centenas de tecnologias e abordagens diferentes.
A SENNO tem em seus valores fundamentais a promoção de ecossistemas de inovação aberta. Acreditamos que esta jornada deve ser feita de maneira ágil, colaborativa, descentralizada e transparente.
Um dos primeiros pontos que reforçamos no método SENNO é que a inovação já existe dentro das empresas. Ela precisa, no entanto, de um processo de governança estruturado e contínuo. Convidamos você a ler o nosso material, que é um guia de como inovar nos diferentes estágios: portfólio, plataforma, ideias, conceito, jornada e inovação.
Veja agora alguns exemplos de sucesso de como o conceito de inovação aberta transformou a realidade de empresas nacionais e estrangeiras.
Índice
O conceito não é uma ideia nova
O Linux ilustra a importância da colaboração
A inovação aberta não é uma ideia exatamente nova. Em 1991, o finlandês Linus Torvalds publicou em um fórum de desenvolvedores o que viria a ser a base do Linux. O sistema operacional passou a ser desenvolvido colaborativamente, tanto por indivíduos interessados em performance, estabilidade e segurança ou por empresas como Intel, Amazon, Google e Canonical. Saiba mais sobre a história do Linux neste link.
Hoje, o Linux é o coração de plataformas como o Android, sendo líder em mercados como computação na nuvem e IoT. De acordo com um estudo de 2018 da Red Hat, o Linux está presente em cerca de 70% da base instalada de servidores no mundo. A empresa foi adquirida pela IBM pelo valor de US$ 34 bilhões e é um importante player deste mercado. Recentemente, a própria Microsoft investiu em um sistema Linux distribuído aos clientes e comprou o Github, uma espécie de rede social para desenvolvedores e cujo código original também foi escrito por Torvalds.
Esses exemplos ilustram como o conceito de inovação aberta tem muita similaridade com o de código aberto, uma vez que os dois modelos têm como essência a colaboração para gerar valor para usuários, consumidores e parceiros.
Investindo em um P&D colaborativo
Confira o case de sucesso da P&G
A P&G criou uma cultura de inovação aberta em seu departamento de P&D para que metade da pesquisa fosse realizada externamente. Esse case de sucesso começou nos anos 2000, quando a empresa mudou de CEO. A nova orientação era colocar novamente a inovação como eixo estratégico. Mas ao invés de aumentar as despesas com o P&D interno, a empresa passou a implementar uma cultura mais aberta.
Um elemento-chave foi a estratégia Connect & Develop, que passou a investir em empreendedores de tecnologia, plataformas de internet e até mesmo em colaboradores que haviam se aposentado. O objetivo era ambicioso: criar 50% das inovações com parceiros externos, numa época em que esse valor era de 15%.
A empresa atingiu esta meta em 2007 e os resultados de produtividade do setor de P&D cresceram cerca 85%, enquanto os gastos foram apenas ligeiramente superiores ao modelo anterior, demonstrando a eficiência da inovação aberta. O programa também conseguiu gerar cerca de US$ 3 bilhões em novas receitas.
Parcerias com startups são a chave
A Cisco venceu a batalha de inovação com a Lucent
Outro case de sucesso é a Cisco, que em competição com a Lucent, optou pelo modelo aberto de inovação. Enquanto a Lucent gastava fortunas com suas pesquisas, a Cisco optou pelo modelo colaborativo. Embora a disputa fosse no mesmo mercado, as duas empresas estavam inovando de formas diferentes.
A Lucent herdou as tecnologias do Bell Labs, icônico departamento de pesquisa que criou o fax, a televisão, as células fotovoltaicas e o transístor, só para citar alguns dos êxitos. Mas à medida que a competição no setor de equipamentos de telecomunicações se acirrou, a estratégia de desenvolvimento interno não se mostrou acertada. A Lucent dedicou muito tempo e esforços para explorar novos materiais, componentes e sistemas de última geração, para a criação de seus produtos, serviços e soluções.
Já o viés da Cisco era fazer aquisições, buscar parcerias, realizar licenciamentos ou mesmo investimentos em startups. Algumas destas empresas novatas compradas, ironicamente, eram fundadas por ex-colaboradores da Lucent.
Desta forma, a Cisco criou um dos mais relevantes departamentos de P&D do mundo, mesmo com boa parte da pesquisa sendo desenvolvido externamente. Esse movimento deu a ela a liderança no setor de redes, em contraponto a Lucent, que acabou sendo adquirida pela Nokia em 2016.
Cocriação é um dos primeiros passos
A GE é uma referência em inovação aberta
A GE é outra referência de aplicação de estratégias de inovação aberta. A companhia investe num ecossistema de parceiros, principalmente por meio de fundos de venture capital, com objetivo de resolver grandes problemas e para garantir que as ideias geradas por terceiros sejam implementadas e se transformassem em produtos para a GE e sua rede.
Uma das iniciativas mais bem-sucedidas neste sentido foi a plataforma FirstBuild, uma comunidade de cocriação que permite que engenheiros e designers tomem decisões para o desenvolvimento de produtos, desde o início de seu ciclo de vida. O projeto tem financiamento da GE Appliances e consegue criar produtos como filtros de água, defumadores caseiros e máquinas para fazer gelo, entre outros.
A empresa investiu em uma plataforma aberta para facilitar a colaboração entre pesquisadores independentes e seus times de P&D, com objetivo de desenvolver novas aplicações de diagnóstico e tratamento por ultrassom. Uma das iniciativas é com bolhas microscópicas que são injetadas no corpo para realizar imagens com contraste ou ajudar em tratamentos, tais como terapia genética. Após serem injetadas, o ultrassom é usado como mecanismo para estourar as bolhas no corpo humano.
Outro mercado alvo da empresa com inovação aberta é o de energia. A companhia usa uma plataforma de coleta de ideias para realizar a colaboração em projetos de produção de energia limpa e acessível usando nanotecnologia. Uma das iniciativas é sobre reduzir o uso de areia e água na produção não convencional de combustível.
A GE lançou também o Ecomagination, um compromisso firmado pela empresa em 2005 para desenvolver tecnologias que reduzam o consumo de recursos naturais, criando ao mesmo tempo benefícios econômicos para seus clientes. O programa gerou cerca de US$ 200 bilhões em receita desde a sua criação e tem parceiros como Walmart, Total, MWH, Goldman Sachs, BHP Billiton, Intel e Statoil.
Aquisições estratégicas fomentam inovação
A Samsung usa a inovação aberta desde a década de 1990
A Samsung criou a iniciativa Next em 1994 para criar um ecossistema de inovação que visa transformar softwares e serviços. A empresa trabalha lado a lado com startups para escalar e transformar ideias em negócios prósperos, solucionando grandes problemas globais. O projeto atua em Berlim, Nova Iorque, Seul, Tel Aviv e no Vale do silício.
As áreas de negócios do projeto são: inteligência artificial, saúde digital, setor de mídia e computação de borda. A relação com as startups e seus fundadores pode se dar por aportes via venture capital, parcerias, aceleração e aquisição.
Um case de sucesso desta última modalidade foi a compra da empresa SmartThings, que gerou interesse em uma área estratégica, a Internet das Coisas (IoT). Com a aquisição, a Samsung pode integrar a tecnologia em seus produtos sem ter que gastar tempo e dinheiro em P&D para chegar no mesmo nível de maturidade.
Já a SmartThings, que era um projeto no Kickstarter, atua de forma independente, mas vê com bons olhos o investimento de uma multinacional, além da integração com o portfólio de eletrodomésticos da Samsung, que dá a ela a possibilidade de criar experiências em IoT para lares de milhões de pessoas.
Ao colaborar com startups, a companhia se beneficia de um vasto número de inovações criadas por empresas menores, cujas tecnologias podem complementar ou serem integradas aos próprios produtos da Samsung, criando valor para ambas as partes.
Rede de pesquisa científica e tecnológica
Grupo Stellantis é mais um case de inovação aberta
A fabricante de carros Stellantis – donas das marcas Peugeot e Citroën, Fiat e outras – investe em inovação aberta e criou a rede de pesquisa OpenLabs que visa aumentar sua agilidade para comercializar soluções inovadoras e detectar novas tendências e modelos de negócios.
Com a inovação aberta, a multinacional quer repensar o futuro da indústria automobilística e ainda projetar os carros do futuro. Estas iniciativas são estratégicas, pois dão acesso a conhecimentos científicos, tecnológicos e de uso. Ajudam ainda a equilibrar as contas do departamento de P&D, pois há o compartilhamento de custos e riscos. Por fim, proporcionam novas experiências para consumidores com tecnologias desenvolvidas fora da empresa.
“A inovação aberta visa construir e gerenciar relações impulsionadas pela criação de valor compartilhado com as partes interessadas de quatro ecossistemas: pessoas, empresas, academia e instituições. Por meio desta iniciativa, visamos expandir a nossa capacidade de inovar”, afirma a empresa.
A Stellantis tem uma página no site oficial onde ela fala de suas iniciativas de inovação aberta, sobretudo sobre o engajamento com mais de 1.000 parceiros, incluindo instituições públicas, centros de P&D e universidades.
O Instituto Nacional de Pesquisa Dedicada ao Digital (Inria), localizado na França, é um destes parceiros. O laboratório é dedicado a pesquisa de inteligência artificial e estuda temas como veículos autônomos, serviços de mobilidade e melhorias na produção fabril.
Inovação aberta no Brasil está ganhando força
Confira o case de sucesso da Natura
O Brasil também está aderindo com força a onda da inovação aberta. De acordo com a Forbes, o país conta com “1.600 empresas e acumula 2.018 startups que fizeram inovação aberta no último ano, realizando 12.436 negócios”. A revista fala ainda que “as startups que se relacionam com grandes empresas captam 85% mais investimentos do que aquelas sem nenhum tipo de relação”.
A revista se baseia em uma pesquisa 100 Open Startups, empresa que conecta startups com grandes empresas. Ela lançou um ranking que avalia o engajamento das corporações brasileiras com o ecossistema de inovação do país. Um dos cases de sucesso é da Natura.
A empresa afirma no site que adota o modelo de inovação aberta e colaborativa há mais de 20 anos, por acreditar no poder das redes de inovação como estratégia de viabilização de inovações disruptivas e geração de resultados para o negócio.
Um dos marcos desse relacionamento é a iniciativa Natura Startups, criada em 2016, que já recebeu propostas de 5 mil empresas nascentes, fechando parceria com cerca de 40 delas. Um case é a Mete a Colher, startup que usa a tecnologia para combater a violência contra a mulher. Outro exemplo é a Fhinck, especialista em otimização e automatização de processos.
Compartilhar informação cria novo mercado
Open Banking vai revolucionar o ecossistema financeiro
Existe uma revolução no mercado bancário brasileiro e ela não é o Pix. Chama-se Open Banking, uma nova forma de intercâmbio de informações que permite mais transparência e competição neste mercado, popularmente conhecido pela sua concentração em poucas empresas. O Open Banking permitirá que os clientes possam migrar seus dados de histórico bancário para outras instituições.
Hoje em dia se você paga uma conta, faz uma transferência ou recebe salário, os dados são de propriedade dos bancos. No novo modelo, esse histórico de relacionamento será pertencente ao cliente, em sintonia também com o que preconiza a Lei Geral de Proteção de Dados Pessoais (LGPD).
“O mercado financeiro deve adotar uma camada de tecnologia padronizada, uma forma de comunicação fácil para simplificar a portabilidade de dados”, explica o site do Nubank.
Essa troca de informações será feita por meio da interface de programação de aplicativos (API, em inglês). Elas já são parte da nossa rotina, usadas para se cadastrar num site com login do Google ou do Facebook e para realizar pagamentos em uma loja online com um sistema de terceiros, como o PayPal e o PagSeguro.
A grande vantagem do Open Banking é que as informações bancárias serão descentralizadas e compartilhadas, dando ao cliente uma maior flexibilidade para consumir produtos e serviços mais adequados às suas necessidades. Hoje em dia mudar de banco tem uma barreira muito grande, que é a burocracia e a necessidade de desenvolver um relacionamento do zero. Ao permitir que o cliente escolha que solução ele deseja usar, a tecnologia será a base para criar um ecossistema, ampliando assim a oferta de produtos e serviços financeiros.
No Brasil, as regras serão definidas pelo Banco Central, que está ainda ouvindo as partes interessadas, discutindo e desenhando o processo. No Reino Unido, Open Banking já está em funcionamento e os países da União Europeia devem implementar a novidade futuramente, assim como Estados Unidos, Austrália, Japão e Hong-Kong.
Investimento corporativo acelera negócios
Wayra é um fundo de investimentos da Vivo/Telefônica
Um dos exemplos que a inovação aberta traz retorno financeiro é a Telefônica, que criou a Wayra para investir em projetos digitais inovadores com potencial de mercado. Os números do projeto são superlativos. Já foram captados cerca de R$ 250 milhões em investimentos, que retornaram com um faturamento estimado em R$ 500 milhões.
O hub de inovação aberta está em operação no Brasil desde 2012 e tem sede em outros nove países: Argentina, Chile, Colômbia, Alemanha, México, Peru, Espanha, Reino Unido e Venezuela. O objetivo é conectar inovadores com a Vivo no Brasil e Telefônica no mundo para gerar oportunidades de negócios. O Corporate Venture Capital investiu em empresas como a Netshow.me, Social Miner e Trocafone. Veja a lista completa neste link.
Setor agro e a inovação aberta
Conheça o case da brasileira ATIVA Soluções
Um dos aportes da Wayra foi na ATIVA Soluções, que desenvolve e fabrica equipamentos para Internet das Coisas (IoT). A startup já conta com mais de 1 milhão de equipamentos em atividade no Brasil e mais quatro países e quer aplicar a tecnologia de telemetria e gerenciamento remoto no agronegócio.
Em parceria com a Telefônica, lançou o Vivo Clima Inteligente, uma solução que visa ajudar o agricultor na tomada de decisão sobre o melhor momento de realizar o manejo, plantio e a colheita.
Em entrevista no blog da empresa, a country manager da Wayra, Livia Brando, fala que o momento atual é de aceleração da conexão entre talentos, universidades, empresas, fundos de investimento, aceleradoras e fundos de venture capital.
“Ninguém faz nada sozinho. Se antes as empresas se preocupavam em manter em segredo o que estavam desenvolvendo, buscando patentes e usando metodologias pautadas em P&D, hoje a dinâmica é outra, muito mais colaborativa e dinâmica”.
Conclusão
Os casos de sucesso de inovação aberta ilustram que o conceito é cada vez mais relevante no exterior e seu interesse é crescente no Brasil. Há alguns anos se formou um ecossistema maduro de startups, como a SENNO, que colaboram e promovem a inovação em grandes corporações e cadeias produtivas.
Se você quiser participar deste universo da inovação aberta, entre em contato conosco. Nascemos para ajudar empresas de todos os setores a acelerarem e digitalizarem seu processo de inovação.
Se você gostou deste artigo e se interessou por inovação aberta, leia este post no blog da SENNO. Fizemos um material que compila um pouco da história, fala das vantagens e os desafios da inovação aberta e como este formato de inovação é ideal para resolver grandes problemas.
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