O ROI da inovação aberta não pode ser medido apenas com uma única métrica financeira.

Resumo:

  • Para medir o ROI da inovação aberta, defina métricas para cada etapa: entradas, processo, saídas e resultados.
  • Aprenda a customizar as métricas de acordo com as necessidades do projeto.
  • Não é possível saber de antemão os projetos vencedores, você só consegue influenciar o processo, não o resultado.

A contabilidade da inovação

Medir o ROI da inovação aberta é um desafio

Prever o retorno sobre o investimento de um projeto rotineiro, que conta com um longo histórico de dados, é um desafio. Já dentro de um ambiente cercado de incertezas, como o da inovação, é um exercício de futurismo que necessita de orientações e ferramentas diferentes

Na prática, quando um projeto de inovação aberta ou fechada surge, ele passa pela análise dos gestores, que seguem o processo de aprovação padrão. Em geral, a primeira pergunta “é quanto vai custar?” e a segunda “qual será o retorno sobre o investimento?” 

Seguindo esse raciocínio, os autores do projeto realizam uma apresentação, que entrega os resultados esperados. O desenho da proposta é feito de uma maneira para que ele seja aprovado pelo sistema, assim como um estudante escreve uma redação para satisfazer o examinador e não para expor de fato uma opinião sincera.

Mesmo que a análise sobre o projeto seja feita sem grandes manipulações ou por uma parte independente, ainda assim, a previsão pode ser equivocada. Isso porque é da natureza dos projetos de inovação terem incertezas por estar fazendo algo novo.

As mesmas práticas que escalam e tornam uma empresa bem-sucedida, ou seja, a capacidade dela em estabelecer previsões e metas para projetos, são as que provocam sua estagnação a longo prazo.

Isto acontece porque os times de inovação tendem a seguir o caminho do “incrementalismo” na escolha dos projetos. E mais, as ideias que não batem com os critérios de avaliação tendem a não avançar por conter uma incerteza muito grande.

Apontado o problema, temos que fornecer alguma alternativa de mensuração, já que deixar a inovação para o acaso tem seus próprios problemas.

Definindo ROI da inovação aberta

Quais são as métricas para mensurar o ROI da inovação aberta?

A resposta mais honesta é que depende da situação. A EY elaborou um guia geral de como medir a inovação aberta. Mas vale ressaltar que ao longo do guia os próprios autores chamam atenção ao fato de que é uma disciplina emergente e tende a não existir uma orientação absoluta de como medir o sucesso dos projetos de inovação aberta.

O estudo considera quatro tipos de métricas:

  • KPIs de entrada: medem os elementos de entrada dentro de um projeto, tais como recursos humanos ou financeiros.
  • KPIs de processo: são usados para transformar entradas em saídas e para melhorar a eficiência do processo de inovação: como variações de tempo, variações de orçamento, relação de erro, entre outros. 
  • KPIs de saída: medem os efeitos das atividades de desenvolvimento dentro de um processo de inovação: número de ideias, número de patentes, número de publicações etc. 
  • KPIs de resultados: visam determinar o valor de uma inovação em termos de indicadores de desempenho econômico e de mercado.

Dan Toma, coautor do livro The Corporate Startup e especialista em guiar grandes organizações a gerir inovação, insiste que é preciso analisar mais o processo de inovação como forma de maximizar os resultados. As métricas financeiras mostram apenas o resultado de um projeto, que é influenciado por fatores além dos indicados na entrada.

Capa do livro the corporate startup, obra em que Dan Toma analisa o ROI da inovação.
Na obra, Dan Toma e seus coautores analisam como desenvolver um ecossistema de inovação. crédito: Amazon

Os gestores precisam aprender que eles não podem influenciar no ROI da inovação aberta, somente no processo.

Nos estágios iniciais de uma oportunidade de inovação, não faz sentido olhar para o retorno da inovação, devemos nos concentrar-se em validar incrementalmente a tese por trás do investimento.

Customize sua mensuração para o contexto

De maneira didática, imagine que você é gestor de uma empresa de cosméticos e tem dois ou três projetos de inovação aberta competindo por financiamento.

Todos pedem em torno de R$ 500 mil para serem financiados. Se já aprendemos que não faz sentido confiar em estimativas de retorno, o que medir então?

O projeto 1 pretende desenvolver um novo produto em parceria com uma startup. Promete uma nova forma de pintar o cabelo, não exigindo descoloração.

Trata-se de uma ideia bastante impactante para o mercado de tinturas, uma vez que a maioria das soluções atuais exigem que se clareie quimicamente os fios naturais para, depois, atingir a cor desejada.

Esse projeto exige que você analise a viabilidade de demanda. Para testá-la, você pode disponibilizar R$ 5 mil (KPI de entrada) para realizar pesquisas com clientes e de marketing e validar essa hipótese.

Se os KPIs de saída forem positivos, pode-se disponibilizar mais R$ 10 mil para produzir um lote experimental para um grupo de clientes e lojas distribuidoras. Com o feedback dos clientes e das lojas, você disponibiliza ainda mais recursos para escalar o projeto. 

O projeto 2 pretende investir R$ 500 mil para encontrar uma solução que automatize parte do processo de armazenamento e logística. É preciso entender neste caso, se os robôs responsáveis pela tarefa serão tão eficientes quanto os fabricantes afirmam, além de pensar em questões como o risco e adaptação dos funcionários.

Para validar a hipótese sobre a viabilidade técnica da inovação, oferece-se então R$ 6 mil para implementar o processo em três unidades de fornecedores diferentes.

O teste pretende colher os resultados de eficiência. Se der certo, a empresa pode investir mais dinheiro para automatizar o resto do processo.

Rodada 1 de Investimento

Projeto 1 (novo produto)Projeto 2 (novo processo)
Custo total do projetoR$ 500 milR$ 500 mil
Duração da rodada3 meses3 meses
KPIs de entradaR$ 5 mil para teste de demandaR$ 6 mil aluguel de unidades de teste
KPIs de processoEntrevista e sessões de cocriação com 500 usuários Tempo para implementação dos robôs
KPIs de saída5 patentes da nova linha de produto% de entregas despachadas no prazo
KPIs de Resultado

Na primeira roda de investimentos vemos que os projetos ainda precisam comprovar hipóteses críticas a seu desenvolvimento. Por isso ainda não temos as métricas de resultados.

Rodada 2 de investimento

Projeto 1 – Novo produtoProjeto 2 – Novo processo
Custo total do projetoR$ 500 milR$ 500 mil
Duração da rodada3 meses3 meses
KPIs de entradaR$ 10 mil para lote experimentalR$ 100 mil para automação completa da etapa de expedição
KPIs de processoProdução de 50 mil unidades  Tempo para automação completa de expedição
KPIs de saídaSatisfação de 90% dos clientes% de entregas despachadas no prazo
KPIs de ResultadoSell out de 60% ou mais% Redução dos custos operacionais 

Em ambos os projetos, só após resultados preliminares e um bom avanço na jornada, é que de fato as previsões do retorno sobre o ROI da inovação aberta podem ser avaliadas para uma nova rodada de investimentos.

Usa-se métricas próprias para o contexto do projeto e o investimento é feito por rodadas, partindo da lógica de venture capital, onde os investimentos são incertos demais para previsões tradicionais. Aplica-se, portanto, recursos gradualmente maiores de acordo com o progresso demonstrado.

Conclusão

Assim como qualquer processo organizacional, a inovação aberta deve ser gerenciada por meio de métricas de desempenho, que têm características particulares devido ao objeto de mensuração ser um fenômeno complexo e muitas vezes imprevisível. Por isso, a mensuração do retorno sobre o investimento da inovação aberta, em geral, não é adequada quando medida sozinha.

Outra forma de medir o ROI da inovação aberta, é enxergar o assunto na perspectiva de apetite ao risco e de disrupção que a empresa tem. Quanto menos a empresa investe em observar as mudanças de tendências e apostar em projetos, mais ela fica sujeita à disrupção.

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